Buick movido a pedal

Um divertido caso exemplifica como a lógica do petróleo contaminou totalmente as bases do pensamento da sociedade industrial. Quatro jovens resolvem sair às ruas de Montreal, Canadá, tripulando um velho Buick 1986, transformado em carro-pedal.
Os policiais, frente a tão insólito veículo, interpretaram a situação como uma ameaça à segurança pública e levam os quatro intrépidos às barras da corte de Sua Majestade.
Era para ser cômico, se não fosse trágico.
No início do Fevereiro soubemos que um Real Buick 1986 havia sido estripado como um peixe pelo artista radicado em Montreal, Michel de Broin. O carro teve todas as suas vísceras mecânicas arrancadas e substituídas por um sistema de tração a pedal para quatro pessoas.
Basicamente, cada um dos quatro passageiros tem o seu próprio jogo de pedais semelhantes aos de bicicleta e conseguem obter velocidades superiores a 15 km/h. Batizado com o pomposo nome "Carro de Propulsão Solidária", a obra de Broin não teve uma recepção nada amistosa das autoridades policiais canadenses, que multaram o(s) motorista(s) por trafegar em via pública com um veículo "perigoso".

Acusações que viraram comédia no Tribunal.
Como pode um veículo acionado por tração humana, que usa freios acionados a mão como os de bicicleta e tem velas ao invés de faróis, ser perigoso? Como pode ser que ele seja menos seguro do que um carrinho de bebê ou uma carroça? Estes foram alguns dos argumentos usados pelo defensor legal Terry Fox, defensor do carro-bicicleta contra a Coroa, que baseava sua tese de perigo no fato do veículo ser equipado com velas acesas. A coisa toda virou chacota e, diante das risadas na sala do tribunal, nada restou ao Juiz, senão encerrar o processo.
Longa vida às loucas engenhocas e Deus Salve a Rainha!

Moral da História: quando você dirige pelas ruas de qualquer cidade do mundo um carro beberrão de petróleo e fumarento, isto é legal.
Agora, se você resolve colocar pedais no seu carro, vai ter que responder judicialmente por estar contrariando as leis do capitalismo, cuja lógica é a concentração do poder, em nome do sacrifício da ecologia e da solidariedade entre as pessoas.

daqui